Tradição das bonecas de cerâmica une gerações há mais de 40 anos
Desde os 10 anos de idade, Maria José Gomes da Silva observava sua mãe encher as mãos de barro para moldar objetos que iam para as casas de outras pessoas, sendo o sustento da família.
“Aprendi com ela, que foi ensinada por minha avó.”
Passados 40 anos de história dessa arte que faz parte de sua vida, Mestra Zezinha, como é chamada, é uma artista reconhecida.
Bonecas de cerâmica do Vale de Jequitinhonha
As bonecas de cerâmica do Jequitinhonha retratam um Brasil que buscou na natureza uma forma de sobreviver. Com isso, os responsáveis por difundir esta cultura, após décadas, hoje conquistam uma grande valorização de seu trabalho. Portanto, as esculturas coloridas de Mestra Zezinha são consideradas uma arte.
Longo caminho
Entretanto, o Vale do Jequitinhonha demorou a colher os frutos desta linda arte em forma de boneca. Apenas há alguns anos, por meio da ONG Rede Artesol, que passou a oferecer apoio e curadoria ao trabalho da comunidade é que veio o reconhecimento. Maria José complementa:
“Aprendemos vendas pela internet, precificação, logística e comercial, além de eles divulgarem nosso trabalho.”
Distribuição das bonecas de cerâmica em todo o Brasil
Desta maneira, as bonecas de cerâmica, além de esculturas de mulheres, homens e animais passaram a chegar com maior facilidade em todo o Brasil. E qual a inspiração para isso? Mestra Zezinha responde:
“Vem do amor que eu carrego pela minha família e pela natureza. Depois de uns anos na produção de cerâmica, comecei a aperfeiçoar as esculturas nos traços de membros da minha família, como minha mãe, algumas amigas e minhas filhas.”
Ela disse ainda que se enxergava no vestidos:
“Peguei gosto em pintar em minhas esculturas os vestidos mais lindos que imaginava. Eu me via neles, adoraria poder vestir algo assim.”
Trabalho envolve toda família
Além disso, o trabalho é bastante intenso e reúne toda a família para ajudar.
“Começa com a coleta do barro, no barreiro, pelo meu marido. Trazemos para casa e levamos para a gangorra, que é uma ferramenta de madeira muito antiga usada para socar e triturar o barro. Depois que vira um pó, eu amasso com água e começo a modelar pela base.”
Após as bonecas de cerâmica já estarem modeladas em altura e proporção cada peça descansa e seca. Em seguida é a hora das filhas da artista pintarem com cores extraídas da própria natureza, utilizando penas, palito de bambu ou um pedaço de pano.
“Vem então o último processo, que é a queima, feita pelo meu marido Ulisses, em período de 8 horas para cada peça em um forno de barro com fogo à lenha”.
Cada item leva em média de 9 a 15 dias para ser concluído.
Vida de ceramista
Zezinha revela que guarda muitas lições da vida de ceramista. Mas se lembra de uma em específico e que compartilha com todos:
“Recebemos uma encomenda de mil bonecas em tamanho médio. Mas não conseguimos atender toda a demanda dentro do curto prazo e o cliente ficou apenas com 20% disso. Aprendi que um objeto de cerâmica de artesanato não pode ter o seu processo acelerado, pois é totalmente manual e individual.”
Desejo para as filhas
Zezinha que sempre foi uma mulher simples desejava apenas que suas filhas fossem criadas com conforto.
“Procurei nunca alimentar outra expectativa no meu coração, talvez por receio de não conseguir realizar e perder meu foco, que era minha família. Hoje sou avó e quero ver meus netinhos crescidos.”
E ela finaliza contando a boa nova sobre os netos:
“Eles estão aprendendo a pintar as peças de cerâmica comigo.”
*Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal