Capelas antigas de São Paulo são pequenos templos que integram bairros da cidade, mas alguns seguem fechados por conta da pandemia
Muitas delas passam despercebidas no dia a dia, mas muitas capelas antigas de São Paulo podem ajudar a contar períodos específicos da história da capital paulista. Entretanto, em razão da pandemia de Covid-19, muitas delas deixaram de receber fiéis por seu tamanho apertado que provocaria aglomerações.
Capelas antigas de São Paulo
De acordo com o professor Fernando Altemeyer Júnior, chefe do Departamento de Ciências Sociais da PUC:
“Ainda não sabemos qual vai ser o efeito. Suponho que elas não desapareçam porque a fé das pessoas não morre.”
Porém, essa permanência vai depender de como a população e a Igreja marcarão presença no local durante esses tempos delicados.
Sobre isso, padre José Elias Fadul, da Paróquia Nossa Senhora Rainha dos Apóstolos, afirma:
“Muitas pessoas pedem o retorno pela questão afetiva, mas sabem que não é viável.”
Marcos temporais
As capelas antigas de São Paulo são verdadeiros marcos temporais de algo que ocorreu na cidade, revela o professor. Ele cita como exemplo a Capela Nossa Senhora dos Aflitos, na Liberdade (zona central). Mesmo sendo ofuscada pelos elementos da cultura oriental, o local ainda guarda importante pedaço da história da escravidão na capital. Isso porque, no século 18, havia um cemitério onde eram enterrados escravos e indigentes.
Outros estados também guardam verdadeiras histórias, como a da padroeira Santa Luzia, cuja imagem por esculpida por Aleijadinho, em Minas Gerais.
Especulação imobiliária
Em contrapartida, muitas das capelas não conseguem sobreviver à especulação imobiliária, afirma Altemeyer Júnior. Portanto, é muito importante o plano de preservação desses locais.
“O poder público e a cidade têm que pensar em como está a guarda e a preservação desses monumentos porque é uma questão de riqueza cultural. Sem memória, não tem povo, não tem futuro.”
Outro exemplo é o prédio amarelo da Capela Santo Antônio, no Pari. Ele é quase engolido pelas paredes cinzas dos edifícios vizinhos. Mas sempre há alguém pedindo uma bênção, revela o cabeleireiro Igor Cruz, 25.
“Bastante gente ainda vem e pergunta se está funcionando. Eles comentam que faz falta.”
Missas
Contudo, segundo o padre Valdeir dos Santos que está há nove meses na Paróquia São João Batista do Brás, conta que, devido à pandemia, ainda não teve a chance de presidir a missa na capela.
Surpresa do Tatuapé
Todavia, na esquina na rua Ângelo Marinelli, no Tatuapé (zona leste), quem passa por ali se depara com uma pequena e charmosa capela. Trata-se de uma homenagem a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. E a curiosidade é que ali só cabem duas pessoas. Além disso, seus vizinhos não sabem dizer com exatidão a idade da capela. Mas os mais antigos dizem que é em torno de 70 anos.
De acordo com a jornalista Sônia Martinez, que mora em frente à capela, há duas versões para a história da construção. A primeira diz que o antigo proprietário daquelas terras tinha muita vontade de ter uma igreja. Já a outra, diz que ela foi construída em homenagem a um operário que morreu durante as obras daquelas casas.
Cindo anos atrás ocorreu uma reforma no local, projetada pelo arquiteto Osmar Alves, 68 anos. É ele quem cuida da pequena capela:
“Esse é um monumento de paz para todos os moradores daqui.”
Região do ABC
Mas não é apenas na capital paulista que há capelas antigas. É o caso da Capela de Nossa Senhora da Boa Viagem, no centro de São Bernardo do Campo (ABC). O local também conta uma parte da história do ABC. O templo foi construído para abençoar os viajantes que passavam pela região saídos da capital em direção ao litoral.
Sobre isso, Jorge Jacobine, analista de Cultura do Centro de Memória da Secretaria de Cultura e Juventude de São Bernardo, afirma:
“A capela está ligada à origem do município. Depois de tanto tempo, esse local ainda é o centro da cidade até hoje. A preservação dele é uma ligação da cidade contemporânea com o passado rural.”
Antigamente um trecho onde ficava a igrejinha passava uma parte do “caminho do mar”. Sendo assim, de local de passagem, São Bernardo passou a crescer por volta de 1812.
Já o primeiro prédio da capela, ainda de taipa, é de 1814. Ele foi construído como sede provisória da paróquia e funcionou desta forma até que a igreja matriz ficasse pronta, em 1825. Desde então, a capela deixou de receber missas regularmente.
A capela passou por duas reconstruções. A estrutura atual é da década de 1880. Segundo Jacobine, é uma das construções mais antigas da cidade.
*Foto: Divulgação