Problema ocorre desde outubro de 2018, quando contratos foram suspensos por haver irregularidades
Os jovens ribeirinhos que residem na zona rural de Rondônia estão sem acesso às escolas desde outubro de 2018. São cerca de mil alunos pertencentes à rede municipal de Porto Velho que dependem do transporte público para poderem estudar. Eles alegam que não há ônibus nem barcos para poderem comparecer às aulas.
A prefeitura do local disse que esta questão está atrelada à suspensão dos contratos com companhias de transporte. O fato ocorreu depois que uma operação policial constatou irregularidades nestes acordos.
Promessas e atrasos
O atual prefeito Hildon Chaves (PSDB) prometeu resolver o impasse até o fim deste mês. Porém, professores e pais afirmam que o prazo limite que lhes passaram foi agosto.
Com a suspensão do transporte, estes alunos não concluíram o ano letivo referente a 2018 e nem retomaram as aulas em 2019. Atualmente, a rede municipal de Porto Velho possui 11.125 estudantes.
Situada a 35km do centro de Porto Velho, a escola municipal Deigmar Moraes de Souza, é um dos estabelecimentos que paralisou as aulas desde outubro.
Com 250 alunos matriculados, a maioria deles chegava ao local em pequenas lanchas, chamadas de voadeiras ou de ônibus. Estas embarcavam os alunos de comunidades e estradas perto da vila de Cujubim Grande. O problema de transporte nesta região já ocorre desde 2014 e com isso a escola já perdeu metade de seus estudantes.
De acordo com a professora do 2º ano, Josenilda Nery, o serviço de transporte foi suspenso e retomado diversas vezes. Por conta disso, a conclusão dos anos letivos são arrastados e, consequentemente atrasam as turmas.
Famílias estão deixando a cidade
Com a dificuldade de acesso à escola Deigmar Moraes de Souza, várias famílias já abandonaram o município de Cujubim Grande. É o caso de Daiane Tomás que tem 3 filhos, com idades entre 8 e 15 anos e que pensa em deixar a cidade para que eles possam estudar em outro lugar.
Já o estudante de 13 anos, André Lucas, que deveria estar cursando em 2019 o 9º ano do fundamental, ainda está no 6º ano por conta dos atrasos da rede de ensino. Em entrevista à Folha de S. Paulo, o adolescente afirmou:
“Quero ser engenheiro civil. Se as aulas não voltarem logo, vou morar com meus tios em Humaitá (AM) para conseguir estudar”.
Além disso, os pais também se preocupam com a questão das horas de ócio forçadas. Eles relatam casos de jovens que tem se envolvido com o tráfico de drogas da região, tanto com vendas como usuário.
Ações na justiça
O Ministério Público Estadual tem em mãos três ações para julgarem contra a prefeitura responsável. Em uma delas, já julgada em 2017, ressaltava a exigência do retorno do serviço de transporte, porém a decisão não foi cumprida.
Investigação policial
A polícia apurou que houve várias irregularidades nos contratos com as empresas de transporte. As vistorias do Detran provaram que a documentação dos veículos estava vencida, além dos ônibus estarem velhos e que não possuíam básico, como cintos de segurança.
Já a quarta ação contra as companhias de transporte responsáveis e a prefeitura já encontra-se em curso. O julgamento diz respeito a fatores ligados à improbidade administrativa.
Secretaria Municipal de Educação
A Secretaria Municipal de Educação divulgou um comunicado onde diz que está à procura de outras opções para que os estudantes da zona rural sejam atendidos. A ideia é regularizar o quanto antes os transportes fluvial e terrestre.
Na mesma nota, o governo municipal resultou que este caos está relacionado às contratações de empresas realizados pela gestão anterior da prefeitura. No entanto, o comunicado não explica porque estes problemas não foram resolvidos desde a atual gestão assumida em 2017.
Fonte: Folha de S. Paulo
*Foto: Divulgação