Mesmo com redução de patrocínios, Festival Curta Cinema exibirá produções em uma mostra mais enxuta
O Festival Curta Cinema, principal exibição de curtas-metragens do Brasil, chega a sua 29ª edição, que será encerrada na quarta-feira (6), no Rio de Janeiro. A programação deste ano sofreu com a redução de patrocínios. Porém, mesmo assim, conseguiu preparar uma mostra potente composta por 177 filmes, em meio a uma crise que cinema brasileiro enfrenta. Este tipo de festival tem a seu favor ser de fácil acesso e democrático.
Formato reduzido do Festival Curta Cinema
Para Ailton Franco Jr, diretor da mostra de curtas, este formato de evento facilita. Em declaração ao jornal O Globo, ele afirmou:
“O formato permite uma velocidade de produção maior. Hoje dá pra filmar com uma câmera de celular e com poucos recursos”.
Ele ainda destacou que as políticas públicas dos últimos anos também contribuíram para o crescimento da produção de curtas-metragens pelo território nacional.
Obras
O festival recebeu ao todo a inscrição de 600 produções, o que representa um acréscimo de 25% comparado à edição de 2018. Os selecionados foram distribuídos em mostras competitivas, panoramas e especiais, que contam com sessões gratuitas no Estação Net Botafogo e Cinemaison, até 6 de novembro.
Destaques do Festival Curta Cinema
O Festival Curta Cinema deste ano conta com destaques na competição nacional. Entre os quais, o filme “A volta para casa”, do paulista Diego Freitas e protagonizada por Lima Duarte. A renomada diretora Daniela Thomas, que já assinou produções ao lado de Walter Salles, “Terra estrangeira” (1995) e “Linha de passe” (2008), apresenta na mostra de curtas “Tuã Ingügu”, de temática indígena. Já a filha do lendário cineasta Rogério Sganzerla (1946-2004), Sinai Sganzerla, apresenta “Extratos”, com registros feitos pelo seu pai na companhia de sua mãe, a atriz Helena Ignez.
Temática da edição 2019
a 29ª edição do Festival Curta Cinema conta com 119 curtas nacionais que oferecem à mostra um cenário das preocupações contemporâneas vividas por nossos cineastas. É o caso dos filmes que lidam com temas como meio ambiente, empoderamento feminino e universo LGBTQ+. Este último representado pela produção “Aqueles dois”, de Émerson Maranhão, que seria o mote da série “Transversais”, que foi um dos títulos selecionados num edital suspenso depois que o presidente Jair Bolsonaro criticou o conteúdo. Porém no começo de outubro, a Justiça reverteu a decisão.
Em relação a produções voltadas ao tema de imigração, Ailton afirmou:
“Justamente por ser um formato mais viável, o curta-metragem absorve com mais imediatismo o zeitgeist de uma sociedade. No Brasil, a pauta identitária é uma preocupação real, enquanto na Europa vemos muitos filmes tratando de imigração. Pode ser que, dependendo dos rumos que o país tomar, no futuro tenhamos uma edição com temas completamente diferentes”.
Queda de patrocinadores
Os curtas-metragens premiados na competição nacional e estrangeira são automaticamente qualificados para concorrer ao Oscar. Já faz 11 anos que isso acontece.
O Festival Curta Cinema também sentou os efeitos da saída de alguns patrocinadores no decorrer dos últimos anos, mesmo sendo uma mostra importante para o país. A edição deste ano só conseguiu ser viabilizada por um aporte feito na última hora pela Riofilme, cujo valor Ailton não revelou. Nos áureos tempos, o festival contava com um orçamento de até R$ 1,5 milhão. Hoje, a realidade é bem diferente e os organizadores tem que se virar com um quarto deste valor.
No entanto, Ailton conta que a seleção de filmes não foi prejudicada, mas que foi preciso enxugar a quantidade de curtas-metragens, além do salário dos colaboradores do festival.
Fonte: O Globo
*Foto: Divulgação