Artista surrealista português Fernando Lemos é considerado um ícone de sua geração e que ainda exerce sua arte aos 93 anos de idade
O Instituto Moreira Salles do Rio de Janeiro adquiriu recentemente duas mil obras do artista surrealista português Fernando Lemos. Aos 93 anos, o multiartista radicado no Brasil desde 1952, afirmou ao jornal O Globo:
“A noite é mais dramática, mais violenta. Quando o primeiro homem entende que é preciso esperar o tempo passar para ver o sol novamente, a noite inventa o futuro”.
Trabalho do artista surrealista
No fim da década de 40, o trabalho fotográfico do português mereceu destaque junto a outros artistas surrealistas de sua geração. Esta temática não foi tão recorrente ao longo de sua carreira, porém ainda encontra-se presente no coração de sua obra.
Acervo do IMS-RJ
No IMS-RIO, a maior parte do acervo do artista surrealista português é composta desenhos, fotografias, gravuras e peças de design. Antes, as peças estavam sob a gerência do IMS-SP. Com a aquisição da unidade carioca que completa 20 anos neste mês, a coleção fotográfica será ampliada. Ela é considerada a maior do país, com mais de dois milhões de imagens.
Lemos ressalta que hoje praticamente já não usa a lente de uma câmera e diz que é “como se a fotografia já tivesse sido feita. Existe um mistério em cada coisa, e já não me interessa transformá-la num eco daquele momento”. E conta que pensa em seu trabalho como algo em que se revela o que não está totalmente à nossa vista. “Na minha experiência surrealista eu pude explorar os sonhos, que é o terreno onde nada fica oculto”.
Negociações
As negociações para a aquisição do acervo durou dois anos e hoje ele está em fase de inventário e catalogação antes de ser transportado de São Paulo para o Rio. Algumas das obras ainda podem ser conferidas pelos paulistanos, pois semana passada foi inaugurada a exposição “Mais a mais ou menos”, no Sesc Bom Retiro. A mostra reúne 86 peças do artista surrealista, divididas entre desenhos, fotos, pinturas e postais, que compreendem desde os anos 1940 até sua produção deste ano. A curadoria é de Rosely Nakagawa.
Rosely afirmou ao O Globo:
“O Fernando tem um pensamento gráfico. Não dá para focar só na fotografia, existe toda uma vertente de raciocínios diferentes nas outras formas de expressão artística que ele explora. Ele conviveu com a intelectualidade portuguesa na década de 1940, fez registros célebres do grupo de artistas que fazia resistência à ditadura salazarista. Ao chegar ao Brasil, nos anos 1950, ele também se integrou ao grupo de pensadores daqui. Em sua primeira exposição, no MAM do Rio, foi apresentado por ninguém menos que Manuel Bandeira”.
Fonte: O Globo
*Foto: Divulgação / Acervo IMS